Resgatando Maria Estela: a história real de uma mãe.
Ser mãe é amor, mas também é cuidado. Principalmente quando se é mãe de primeira viagem. Por mais que você se prepare, maternidade se aprende na prática e cada choro ou soluço gera preocupação. Muitas vezes não é nada, mas, às vezes, o inesperado acontece. Foi que aconteceu com a nossa colaboradora Gielen, apenas 3 dias após o nascimento da sua filha, Maria Estela, que sofreu um engasgo e precisou de assistência médica urgente, imediatamente.
Este é seu relato:
“Hoje meu coração pediu pra escrever sobre minha segunda gestação, onde recebi a benção de ser mãe da Maria Estela, nossa bebê arco-íris. É exatamente assim que ela é colorida e cheia de alegria.
Foi uma gestação tranquila, trabalhei até o final, ela nasceu no dia 16.10.2018, (Meu melhor presente de aniversário, no mesmo dia do meu aniversário), bem de saúde, com 49 cm e 3.340kg. Foi um parto cesárea, teve uma pega boa na amamentação, ficamos internadas 2 dias conforme o protocolo do hospital por ter sido cesária. Fomos pra casa no dia 18, nossa família estava completa, muitas alegrias, visitas, que delícia, nossa primeira noite foi tranquila, ela só acordava pra mamar.
Dia 19 foi dia de fazer o teste do pezinho, foi um dia tranquilo também, e ai a noite veio um fato inesperado. Michel (meu esposo), estava com a Maria Estela no quarto dela, e eu havia ido ao banheiro, quando ele me chama diz: Maria Estela está engasgada.
Naquele momento eu só conseguia rezar, mostrei a ele como devia fazer a manobra pra desengasgar e liguei imediatamente pra MEDICAR, a empresa onde trabalho, expliquei a situação pro atendente que me passou pra falar com a medica reguladora que além de companheira de trabalho é uma amiga, Dra Vaina.
Expliquei a situação e ela nos pedia calma, mas parece que era uma eternidade a ambulância chegar. Nesse tempo, retornei a ligação e pedia pelo amor de Deus pra nos ajudar, ela pedia calma e que continuássemos fazendo a manobra. Até que por fim a equipe chegou (passou 10min da ligação), muito desesperada eu corria no meio da rua, recém operada.
A equipe era composta pelo médico Dr. Fernando Sadano, um motorista e um enfermeiro. Fizeram um excelente trabalho e Maria Estela voltou sem sequelas. Fomos pro Hospital, passamos a noite lá pra ela ser avaliada pelo cardiologista Dr Clemente, que fez o exame e descartou qualquer possibilidade de problemas cardíacos.
Esse foi o terceiro dia de vida da Maria Estela, meu coração transbordou de emoção e gratidão por todos que estiveram com nós nessa noite .
Agradeço a Deus e a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, por ter nos abençoado com a vida da Maria Estela, meu coração transborda de emoção e gratidão por todos que estiveram com nós nessa noite, em especial a equipe Medicar, Dra Vaina e Dr Marcio, Dr Fernando Sadano, motorista e enfermeiro, por serem tão humanos e nos acolher nesse momento de aflição. À nossa família e amigos pelas orações, também.
Hoje ela segue cheia de saúde, amorosa e muito risonha.”
Abaixo segue o relato do médico socorrista Medicar:
“Sempre digo que toda queixa, todo atendimento, todo paciente é importante…Não importa se um paciente bate em meu consultório na USF pelo SUS ou se vou atendê-lo pela Medicar. Não importa se a queixa é algo relativamente “mais simples” como uma dor de cabeça, uma crise de labirintite ou uma emergência, como um TCE grave, um AVC, ou uma crise convulsiva…
Quando um paciente nos procura, não importa a sua queixa, idade, condição social, se ele nos procura, é porque ele precisa de ajuda… E de uma forma ou de outra é sempre nossa obrigação tentar ajuda-los…Eu gosto sempre de dizer que o atendimento mais importante, que o paciente mais especial, é sempre o próximo que iremos fazer…
Não importa se a consulta vai demorar 5 minutos ou 2 horas, mas durante o tempo que estivermos com o paciente, nosso foco deve ser somente ele…Enfim, tento sempre atender todos os pacientes da melhor forma possível, pois realmente gosto muito do que eu faço, e por isso não me canso de trabalhar bastante, mas é justamente por histórias como essa que nos fazem ganhar o dia…
Pois bem, hoje entre um paciente e outro, fui pego de surpresa com o relato da querida amiga Gielen, do dia que fomos atender a filhinha recém nascida…Como eu disse, todo atendimento é único e especial… mas o da Maria Estela realmente foi diferente…Lembro como se fosse hoje…
Era um sábado a noite, estávamos na base, havíamos acabado de chegar com o jantar e estávamos nos preparando para comer… quando recebi o chamado pelo rádio, olhei o atendimento e vi que era uma emergência com o nome da Gielen…Ainda na mesa eu falei pra equipe: “Ela tava no final da gestação, vai ver entrou em trabalho de parto, bora lá!”(Eu não sabia que ela já havia tido o parto) Largamos a comida de qualquer jeito na mesa, e fomos em direção a ambulancia…
Na ambulancia, recebo o caso completo da Dra Vaina:
“Sadano, o atendimento é pra filhinha dela que está engasgada…”Estavam comigo na equipe, o enfermeiro Fernando Franchin e o motorista Rodrigo Fritz…Na mesma hora, lembro que eu e Fernando falamos para o Fritz:” – Corre!!! Liga essa sirene e voa porque pode ser grave…
Não deu outra, em cravados 8 minutos conseguimos cortar a cidade e chegar a casa da família…Foram apenas 8 minutos!!! Porém, foram talvez os 8 minutos mais demorados de nossas vidas…
No caminho, eu e o enfermeiro Fernando fomos fazendo suposições, imaginando em caso de complicações, quais procedimentos realizar, quais drogas poderiam ser úteis neste caso, e quais as dosagens das mesmas…”Mas e aí, não sabemos o peso, não sabemos nada da criança? Vamos considerar 2,5kg? Ou 3 kg?
Aaah, acabou de nascer né? Calcula pra 2.750g”…Pode parecer pouca diferença… mas meio quilo pra um RN é praticamente um sexto de seu peso total…
Confesso que não sou uma pessoa muito religiosa… mas naquele dia eu rezei durante esses 8 minutos…Foram 8 minutos fazendo contas, projeções, simulações, mas também foram 8 minutos de muita torcida e oração…Imagino o desespero de todos, nesses 8 minutos, além de nós, havia a familia aguardando o atendimento e toda uma Central de telefone aflita por maiores noticias…Ao chegar na casa da família, vejo de longe o portão aberto, com a bebe nas mãos do pai, saindo para a calçada…
Ali mesmo já decidimos:”Não vamos nem descer, pede pro pai vir pra ambulância…”O motorista já abriu o vidro, e assim que estacionou, abrimos a porta lateral da VTR e fomos de encontro a ela…Enfim, foi pegarmos ela em nossas mãos e ela voltou a chorar, voltou a reagir…
Como foi bom ouvir aquele choro, ainda fraquinho de uma recém nascida… e de todos ao redor… não teve um ali que não lacrimejou os olhos na hora…Graças a Deus não precisamos fazer NADA para ela… nenhuma medida invasiva, nenhuma medicação, nenhuma das nossas simulações e cálculos de medicações precisaram ser usados naquela noite…Não sei se foram as manobras realizadas pelos pais, se foram as orientações da Dra Vaina, ou se foi a nossa simples presença… só sei que algo maior agiu naquele dia, e tudo ficou bem com a nossa querida Maria Estela, aliás, só naquele momento, depois de muita angústia, finalmente descobri o nome dela!
Felizmente foi só um susto, ou talvez não, vai ver esse foi o jeito que Maria Estela arrumou de se apresentar a nós e a todos os colegas de trabalho da mãe! Essa menina mal chegou ao mundo e já tava fazendo arte…Fico feliz todas as vezes que a vejo, ou que vejo alguma foto dela por aqui… Não tem como não esquecer daquela noite…
Se você achou o texto longo e cansativo… saiba que o tempo de leitura do mesmo é de aproximadamente 3 minutos… ou seja, quase um terço do tempo que levamos para chegar no atendimento… Dá para ter uma ideia da angústia que foi né?
Após o atendimento, voltamos para a base, e finalmente conseguimos comer a nossa pizza… foi a pizza gelada mais gostosa que já comemos até hoje…”